quarta-feira, 29 de março de 2023

Inteligência artificial não anda de skate

Há diversos artigos na imprensa falando sobre a possibilidade das IAs superarem o ser humano. A ficção científica é uma realidade. As IAs já conseguem enxertar em nosso cotidiano digital: textos, imagens, vídeos que pedirmos para elas criarem. Esse texto que lês agora, uma IA poderia construir facinho, facinho. Mas entendo que uma IA ainda é uma espécie de robô melhorado, e faz as coisas de acordo com o comando que lhe é dado. 

Assim, a IA vai produzir o material que for estimulada pela imaginação humana. Podes pedir para ela a fórmula da bomba atômica, ou a receita do pão cacetinho, uma IA consegue computar séculos de informações, mastigar e entregar de bandeija. O futuro da vida intelectual está em seus circuitos. 

O que uma IA está longe de fazer é andar de skate, essa emoção ela só vai ter noção cognitiva. Mesmo que ela saiba detalhe por detalhe do documentário - Tony Hawk: Até as Rodinhas Caírem, não tem um coração para sentir a emoção de acertar uma manobra. 

terça-feira, 28 de março de 2023

O jornalista de dados é um idiota da objetividade

Diariamente são produzidos 2,5 exabytes na rede. Um exabyte equivale a um quatrilhão de bytes.  Um quatrilhão é representando pelo  número 1 seguido de 18 zeros. Não cabe com esse número fazer uma metáfora com mar, tipo: é um mar de dados. Fica mais explicativo dizer que é uma galáxia de dados. Veja a dimensão de informações que há possibilidade de reportar diariamente, claro, tem que ter, no caso dos jornalistas, faro. 

O Paulo Francia dizia, "tudo que está na internet eu já sei desde os 12 anos". Era uma ironia, e quando ele falou essa frase, lá por 1996, a internet estava saindo das fraudas e aprendendo a sentar no vazo. Depois que a internet firmou as nádegas no acento, as redes sociais foram criadas aos montes, as pessoas começaram a falar o que bem quisessem - o bolo alimentar caiu no sanitário.

Os quintilhões de dados que tem na internet, bem organizados, podem servir de material para uma história. Mas não esqueça também que números podem mostrar dor, sofrimento, alegria, sorrisos, ou seja, os sentimentos humanos. Humanize os dados. Quando Édipo disse que matou o seu pai e cassou com sua mãe, por volta de 4 mil a.c., fou muito mais emocionante do que a chegada do homem na lua, aquele deserto cinza e sem vida. 

Mas há uma fórmula infalível no livro Os Homens do Presidente: follow the money.


segunda-feira, 27 de março de 2023

É mais fácil parar de fumar do que parar de fazer arte


Quem contempla a cidade com atenção sempre compreende um novo detalhe: desde a simetria dos telhados até as texturas do calçamento, passando por ornamentos enferrujados na fachada do casarão, ou até mesmo a parede lisa, tudo se torna assunto, obstáculo ou suporte. A cidade é uma obra de arte complexa e particular.

O artista que procura inspiração na cidade, uma vez fisgado pela sua exuberância, submete-se a sua profusão de possibilidades. Passa a esfregar-se sobre o mobiliário urbano a procura de um novo ponto em que possa executar sua expressão. Vivendo nessa simbiose prazerosa e incontrolável, em alguns casos, artistas que encontrar barreiras (financeira, doentia ou da lei) para fazer a sua arte, tendem a se aproximar à margem do desespero e da loucura.

Foi com esse imaginário que fui ver os trabalhos apresentados pelo Aloízio Xator no Mucha Arte, vernissage que redecorou as paredes do restaurante Madre Mia, em Pelotas. Os trabalhos do Xator são construídos com a vivência das ruas, e num desses rolês, ele descrevendo como se sentia, disse: “É mais fácil parar de fumar do que parar de fazer arte”.